LADY Γοργών

Tão bela minha amada, mas também tão perturbada
Seu subconsciente armazena quantas desilusões:
Memórias, crenças experiências, pensamentos
Sentimentos, paixões. Tem dentro dela um mar
Um oceano de lágrimas do qual muito pouco sabe:
Peixes trafegam por ele. Tubarões nadam dentro
De sua memória. Forças poderosas incitam-na
Influenciam seus gestos sem que ela saiba, ares
Ações, representações influenciam seu dia a dia
Suas decisões. Em seus devaneios já quis ser
A Medusa, irmã das Górgonas. Mesmo sem ler
Hesíodo quis morrer pelas mãos de seu Perseu
Ela, tão mínima, professora, mãe, normalista
Morna, queria ter o baita poder de uma Górgona
Cresceu, mas não amadureceu seus sonhos
Não mais tão medonhos, mas mantinha o rosto
Permanentemente tristonho, não conseguiu calar
As mágoas que pela face se faziam mover. O mar,
As forças poderosas regiam as águas sob ela
A subterrânea maré de ondas a moviam rumo
À praia. Mas ela não buscava a paz na areia
O areal não lhe aquecia ou apascentava seus
Tormentos. Ela se agitava sob o vento suas
Crenças, medos experiências influenciavam
O passado decepcionado de seus tormentos
As ondas do mar tinham consumido todo seu
Alento. O corpo precisava de um novo fôlego
O ar viciado de seus tormentos angustiava
A aflição sem esconder seus sofrimentos
A adversidade de Inconsciente Pessoal
Agitava-se em meio a ondas impacientes
De seu tsunami carnal. Seu pensar miúdo
Sem conseguir libertar-se de seu passado
Voltava sempre a agitar a superfície brava
Das ondas do mar. Lá ficava ela absorta
Em sua angústia imensa, à espera do ser
De um anjo torto que viesse surfar sobre
As ondas do mar de suas vicissitudes, a ela
Trouxesse algum alento, às custas de mais
Tempestades e de ventos que a consumiam
De uma vez por todas. Em seu velório
Ela parecia uma Γοργών, os cabelos eretos
De serpentes, penteados e arquitetados
Por um cabeleireiro dantesco personagem
Submisso, cativo da moda sonora do inferno.