CARENTES ESTRUTURAIS
(SENTIMENTO, EMOÇÃO)

CADA UM DE NÓS é uma inteligência artificial. Uma inteligência artificial de baixa performance. Se não o fôssemos, não estaríamos sujeitos à extinção da espécie. Não estaríamos sujeitos ao desaparecimento enquanto indivíduos pertencentes à habitação neste planeta. Somos, atualmente, os últimos exemplares da espécie Homo sapiens, apesar de sermos mais de oito bilhões de habitantes com problemas de ordem diversa: impossibilitados de realizar a atividade essencial de promoção da qualidade coletiva de vida planetária.

NÃO TEMOS CONDIÇÕES de nos gerir sem que estejamos nos agredindo, nos ameaçando, sem que estamos em guerra interna e externa com nossos semelhantes. As mulheres não param de parir, apesar da imensa quantidade de pessoas com fome e desempregadas ou com emprego com salários irrisórios. As pessoas estão ocupadas em fazer dinheiro, sem se importar com a preservação da biodiversidade. 97,5% da água no mundo é salgada. 2,5% da água é doce, 70% desta é de difícil acesso, concentrada nas geleiras. 30% são águas subterrâneas, 1% é água de rios.

ENQUANTO OS RECURSOS naturais vão se escasseando, os governos do mundo vão se digladiando e o aumento da insegurança existencial planetária cresce dia após dia, com o crime organizado fazendo frente ao Estado, ganhando terreno e administrando áreas onde esse Estado não chega, ou chega muito precariamente. O mundo já é governado por interesses que não incluem a preservação das espécies de modo eficaz.  

O ESTADO GOVERNAMENTAL detém poder sobre o território e o governo da população, sua soberania, através da administração pública infiltrada por interesses particulares de grupos e gangues nas funções executiva, legislativa e no judiciário. O crime organizado extrapolou seu poder confrontado com o poder do Estado, com conexões que abrangem todo o território nacional e a internacionalização de seus interesses ilegais tornados legalizados pela atuação de advogados e empresas que representam seus interesses.

O ESTADO É A AUTORIDADE no território de sua população. Os governos executam as políticas do Estado. Acontece que a infiltração do crime organizado nas cidades urbanas e rurais, escapa facilmente dos planejamentos de controle governamental nesses territórios cada dia mais dominados pela atuação marginal. O crime organizado se infiltrou nos bairros das cidades, conta com uma parcela das polícias por ele aliciadas para fortalecer sua atuação no controle e posse desses territórios.

A OCUPAÇÃO DESSES territórios pelo Estado marginal é de difícil reversibilidade. As quadrilhas se apossam sub-repticiamente, através da ameaça e do medo, de locais em que as pessoas se reúnem para trocar ideias, bater papos de jogar conversa fora (bares, botecos, lojas, padarias, comércio variado, mercadinhos) para, gradativamente, ir ganhando terreno, transferindo a posse de bens de seus habitantes, através dos roubos de seus bens (bicicletas, motos, carros) e, não poucas vezes, de seus apartamentos, sem que o Estados governamental possa deter o avanço ampliado dos interesses das gangues.

O ESTADO MARGINAL reflete a desigualdade ampla, geral e irrestrita, a vingança social dos excluídos. Ele faz suas próprias leis e afirma sua autoridade independente da presença, muitas vezes apenas de fachada, do Estado governamental infiltrado pelos interesses e o poder aquisitivo crescente do crime organizado. Entre esses dois Estados, fica a população cada dia mais desamparada, muitas das vezes aliada ao Estado marginal por uma questão de mera sobrevivência.

O AUMENTO DA INSEGURAÇA social é flagrante. O sistema de justiça é lento. A atuação das forças policiais, quando competentes, não tem força para deter a crescente criminalidade num cenário cinematográfico de impunidade. Impunidade explorada pelas brechas legais nas leis e suas interpretações distorcidas.  

EXISTEM NO PAÍS NADA menos de oitenta e oito facções criminosas promovendo a vingança social dos excluídos pelas benesses do Estado governamental. A precariedade de qualidade na educação é parte integrante da cultura adolescente. A maior parte desses adolescentes não leem jornais, livros ou revistas. E quando leem é cosmo se não lessem, porque não sabem interpretar os textos lidos. Ou os interpretam com as distorções mais comuns da subcultura vigente na sala de jantar dos familiares.

AS POPULAÇÕES MAIS vulnerabilizadas não têm acesso à cultura literária. Os jovens tendem a fazer parte das gangues que lhes dão oportunidade de ganhar dinheiro com a comercialização de drogas. Os pais são têm autoridade moral e intelectual para lhes fornecer uma orientação adequada ao enfrentamento de seus problemas, nem os mais triviais. A escola com professores com salários de garis não tem condições de reciclagem de seus conhecimentos ou atualizações que precisam ser efetivadas em salas de aula.

COMPARTIMENTALIZAR OS conceitos de gerações não muda ou melhora o cenário cultural de atuação social delas: — Geração “Baby Boomers” (nascidos entre 1946/1964) influenciada pelo período pós-guerra. — Geração X (nascidos entre 1965/1980) valorização do individualismo e da experiência. — Geração Millenials (nascidos entre 1981/1986) os “nativos digitais” usuários da internet e computadores pessoais. — Geração Z (nascidos entre 1997/2010): ansiosos, cidadãos do mundo, identidade fluida. — Geração Alpha (nascidos a partir de 2010) influenciados pela cultura totalmente digitalizada, imersa nas novas tecnologias.

ESSAS GERAÇÕES SE excluem mutuamente??? Não, elas convivem entre si como as demais gerações conviveram e convivem. Não há, realmente, diferença de percepção PSI entre elas: são todas por demais preconceituosas e cientes de suas respectivas distinções e alteridades. Na realidade, e em última análise, não diferem em nada, emocionalmente, das gerações que as antecederam, exceto pela atualidade hightech que as envolveram em seus respectivos nichos no tempo em que nasceram. No mais, são potencialmente autodestrutivas e igualmente narcísicas. Sentimentos e emoções sempre conflitantes.