NOUTRO DIA
Eu agora tenho um rosto, agora sei de minha cara
Eu agora tenho olhos, meus pulmões respiram ar
O cérebro me mantém vivo sob o manto dos sons
Percebo que tenho dentes e sentidos nunca dantes
Percebidos. Parece-me que consigo ser eu mesmo
O Inconsciente Pessoal está fora da bolha coletiva
A organização universal rege sim, mil possessões
Legiões de chifres se movem à beira dos esgotos
As cabeças enfeitiçadas se movem à beira da lama
As carteiras profissionais estão de fato assinadas.
Aposentadorias garantem uma vida finalizada.
Todos têm o mesmo nome. Legiões de boêmios
Reúnem-se nos mesmos lugares. Os Raimundos
Do mundo caminham céleres rumo ao horizonte
Padronizado. Não há céu, não há mar. O oceano
Findo em beleza. O sonho americano recrutou
Seus últimos coágulos de sangue negro. Um ser
Alistou-se no exército dos pedreiros poderosos
Horrorosos seres puxam a corda dos sinos que
Não mais se ouvem. A deusa-cadela devorou
Corações e mentes uivam por quimeras. Findas
Ideias inexistentes lutam por vir à tona à toa
Os discursos enganam. Os enganados sentem
A fúria do Tempo. Os assessores do reisado
Contam ávidos os lucros. As máquinas não
Param de avaliar fortunas. Há alegria, alegria
Nos que usam black-tie. A borduna do ódio
Pulsa no Coração das Trevas. Gritos aflitos
E encolerizados não são ouvidos. As almas
Rondam os corpos configurados de terno e
Bravatas. O inferno dança ao som eletrônico
Os covis da vida noturna agitam as mudanças
Que não mudam nada. As cidades expostas
Ao nono dia que nunca chega na 2ª feira as
Sete da manhã a rotina chama vidas amargas
O carro elétrico é a meta. O anoitecer se apraz
E se basta. Mulheres adornam os ambientes
Como se fossem meras bijuterias. A chama
Do sexo mantém os azuizinhos em alta. Não
Se vê uma alma que ambicione amanhecer
As guitarras alcançam os sons mais altos na
Torre de Babel erguidas nas alturas, quem é]
Quem mais embaixo??? A ambição esmaga
Multidões. Nas câmaras e assembleias ladram
Cães assenhorados das roupas sujas. As leis
Fazem valer, por bem ou por mal, a cobiça
Do primeiro comando da capital. O governo
Escancara as portas do Bandeirantes ao mito
Enfurecido e à sua paquita evangélica malsã
Mas sol persiste em ser amante da manhã.