Textos

Atualidade Ancestral
Sinto-me estranho
É que minha mente
Pessoal e coletiva
Anda esquiva saindo
Fora do assédio
Gaynibal. Lembram-me
Esses supostos irmãos
Quem eram os filhos do
Antigo planeta canibal.
Neolítico. Pós-moderno.

As mulheres pariam mas
A fome nos invernos
Glaciais atípicos
Mantinha o rebanho à
Mercê do síndico das
Cavernas. Seu desejo
Ardente de alimento
Humano. Os gusanos
Mexiam-se nas tripas
Em decomposição.

Eram para ser os anjos
Da guarda das crianças
Ameaçadas. As caras meio
Sem graça esperavam o
Momento aziago das Homo
Omoplatas curvarem-se
Sob as carnes tenras
E apavoradas. Das crianças.

Os filhos Arcanjos não
podiam voar. Mesmo que
Fossem guerreiros estavam
Ainda na infância. Trêmulas,
As bocas sujas de sangue
Dos pais investiam nos
Ossários. Lambiam ossos
Devoravam as vísceras
Infantis. Os corações
Ainda pulsando lançados
No fogo glacial.

O terror ditava a norma
A necessidade de carne
Falava mais alto. As
Crianças eram retalhadas
Nas sombras. Os restos
Mortais lançados das
Janelas e frestas nas
Cavernas modernas do
Sexto andar.
Ao lado a lado aterrorizado
Dos corpos a lenha estalava
As brasas ardiam. As mãos
Peludas catavam piolhos e
Os últimos pedaços dos
Dedos lambuzados sangravam
Entredentes.

O tênue tutano dos ossos
Sugados pelos lábios
Sádicos. Saciavam a fome
Mordiam os artelhos. O
Esgar exaltado das línguas
Sugava os restos de pele
Tostada junto aos pelos.

Hoje, milênios depois
A herança da música dança
Na memória decantada da
Pré-história: o olhar doloso
Reflexo mútuo, demencial
Culpado, incestuoso, indolente
Unicamente carnal.

O que foi felicidade
Engorda e mata de saudade
Atrás das grades do casal
A memória: velhos tempos
Belos dias.

Enquanto isso o urdidor
Nardoni, e a urdideira
Buscam uma justificativa
Tempo perdido, limpam o
Sangue da menina Isabela
Dos cantos cínicos das
Bocas. E a nave louca da
Globalização continua seu
Investimento no Medo.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 25/04/2010
Alterado em 25/04/2010


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