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Gente Como A Gente? (As Favoritas Da Sala De Jantar)
As criaturas do inferno
Aprenderam a gostar
De sofrer. E querem
Companhia. E acham
Natural esse modo
Sadomazoquista de ser.

Para as criaturas do inferno
A ambrósia está em fazer-se
E fazer padecer. A mala da
Culpa, o vício vai renascer.

Todo dia é dia de Donatela
Flora, Cibele, Lara, Orlandinho
Halley e Augusto César. Todo
Dia é dia de baixaria. Eles
Estão com a vida ganha
Senhor. Padecer prejuízos
Até o dia do juízo é o dom
Deles, natural. Companhia
Para minhas tias, parentes
E descendentes diretos desse
Mal.

As criaturas do inferno
Doutoradas em padecer
Não têm outro objetivo na
Vida exceto sofrer e fazer
Sofrer. Comer, beber, cair
E levantar. Ninguém acha
Essa vida estranha? Viver
Pra alimentar todas essas
Manhas, viver o fel dessas
Entranhas do café da manhã
Ao lanche do anoitecer.

As criaturas do inferno
Programadas pelo salário
Comem, bebem, urinam
Defecam, como máquinas
Orgânicas procriam, as
Fêmeas saturnais querem
É mais e mais companhia
Nos ambientes maternais
Neles ninguém cresce
Exceto os fetos das grávidas
Que depois de nove meses
Suportando esses revezes
Nascem também infernais.

“O inferno são os outros”
No dizer do filósofo Sartre
Os demônios procriam em
Surtos psicóticos como os
Demais. Em todos os
Lugares globalizados
Pelas artes malasartes
Dos produtores globais.

A mim que não sei de nada
Dá-me senhor, a poesia do
Dia a dia nessas estradas
Vicinais. Mantém-me
Distante dessas criaturas
Infernais chegadas ao
Desperta a dor, reclamam
Todos os dias os anões, os
Joãozinhos e as marias. Faça
Sol frio ou calor, há sempre
Um motivo árido pra justificar
Sua boca torta, seus atavismos
Sapiens. A demência de suas
Raivas, ressentimentos, rancor.

As crias crescem e logo aprendem
Na coleira do torpor, a terem medo
Da vida a terem medo do amor
Almejam a aposentadoria garantida
Esse é seu único valor. Como se
Viver não fosse nada mais que ser
Ator, nos concursos públicos está
A garantia da vaga atrás da mesa
De burocratas da cerveja almejam
O fim do expediente nas salas das
Secretarias, câmaras e assembléias
Pisando em ovos sobre o solo
Forrado do tapete voador.

Têm por vergonha maior
O voto de cabresto por
Companhia. Na urna municipal
Fomentam nas escolas a educação
De vadias para o látego, o tráfico
E na cama dos motéis
Proporcionar-lhes alegrias.
Alegrias.

O cinismo e o deboche
Tomaram conta de tudo
No inferno ninguém fala
Sério. Chamar de cidade
Verde esse deserto seco
É simplesmente absurdo.
A lei do silêncio impera
Como se o salário, essa
Fera, fosse pano de boca
Do funcionalismo público.

A vida dos demônios está
Ganha, Senhor, faça frio,
Sombra, sol, chuva ou calor
O vento não refresca, as mãos
Estão sujas de sangue dos que
Caem nos sinais de trânsito
Vítimas das refregas. O pão
Precisa ser ganho pelos
Desempregados, pelas vítimas
Que não têm salários de músicos
Mas têm famílias a sustentar
E não foram educados nas
Escolas dos concursos públicos.

No inferno não há culpados
São todos um bando de pagãos
Inocentes com suas bocas sem
Dentes mastigam os dias úteis
Da semana na expectativa do
Globo Esporte no Domingão
Enquanto as mulheres procriam
No fuque-fuque vadio enchendo
A boca do balão. Algumas
Chamam a isso de amar
Produzir bonecos para o
Consumo do fisco aumentar
A produção de insumos,
Cigarros, cervejas, merda
Urina, produtos do supermercado
Que a votação nos políticos
Precisa continuar. E as descargas
No sanitário se renovam. Até o
Próximo dia de votar.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 25/04/2010


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