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EnsaioSobreACegueira ,A Poesia (A J. Saramago e a W.Salles)
A “onda vermelha” ganhou o asfalto
Que importa se o sinal está verde?
Quem sabe para onde ir? O sono
Atormentado. Os sonhos de quem
Não consegue dormir. Ninguém
Sabe contra o quê lutar. O controle
Social vem de todos os lados. O
Desatino precisa de adrenalina
Está tudo branco diante dos olhos
No sinal vermelho todos vendem
Incertezas, Todos compram, Estão
Cegos, Estão vendo tudo branco
A bandeira branca aspirada turva
A retina, cega; Na noite sem fim
A massa intestina, chega, divide
As tarefas triviais, domésticas
Domésticas negociam todas as
Supostas liberdades e o simples pão
A cidade sobrevive fazendo todo tipo
De concessão. Viver é uma festa
Um genocídio, uma prostituição
Onde ninguém vê nada todos são
A próxima vítima da catarse coletiva
Viver da possibilidade do acaso
A sociedade primitiva de 2008
Precisa dos homicidas afoitos
Na sala de jantar do mutirão.
A novela ninguém mais precisa
Filmar. Todos são atores que se
Deixam levar de roldão. E atrizes
Todas livres para ser o que são:
Cervas, A ansiedade de vir a emergir
Do leito de Procusto em direção ao
Amarelo da luz solar mais brega
Suas moradas são os campos de
Concentração; O rebanho não mais
Precisa do automóvel para votar
Ou voltar para casa. O pistilo
Solitário de uma flor invisível
Não está ao alcance de nenhuma
Mão a tatear em fila indiana um
Lugar para se amontoar no próximo
Fim de semana. Afinal, distante de
Outras pessoas desagradáveis
O caos e a rotina separados por um
Fio de cabelo, O real e o virtual
Acontecendo simultâneos na solidão
Coletiva na massa de banhistas
Basta um ator falar mais alto
O rebanho anseia por obedecer
As belas maneiras afetadas
Gentilezas do romantismo mórbido
E lânguido de celulóide. Quem tirou
Deles a vitalidade e a virilidade
Naturais e os tornou compradores
De ingresso sentados, comportados
Nas salas de exibição? Deram-lhes
Em troca os pesadelos da rotina
Industriosa do trabalho. do salário
Ficaram em seus ninhos amontoados
Castrados. sem vontade, como
Galinhas chocas; Suas emoções
Vêem dos arrepios de medo, Tudo
Escapou-lhes do alcance, exceto
O sucesso de seus carcereiros
Nos festivais de cinema europeus
Brasileiros brilham para que os
Brancos dos olhos das pessoas
Da sala de jantar, da sala de cinema
Se vejam no campo de concentração
Do que sobrou de seus desejos
Soçobrados, tudo agora é senzala
Que sobrou, senão a cidade sitiada
Por seus espelhos? Quem sabe ao
Sair da sala de exibição possa então
O espectador ir em direção ao
Fim. Ao fim de semana no litoral
No litoral. E na volta, calcar o pé
No acelera dor tendo ao lado a
Família insólita, transparente
Elástica e inflamável. Protegida
Pelo ambiente capsular do carro
Mulher, filhos e babá podem
Confiar na direção do Felipe
Massa nesse final de semana
Na volta vitoriosa para casa
Os pneus vão derrapar na próxima
Curva em esse do asfalto
E o seu bafo estará contido pela
Lourinha, ou será pela branquinha
A moça do olhar esbugalhado
Paga para embebedar todo mundo
E ninguém está a enxergar nada
Exceto os trejeitos serpentinos
Da modelo par do Zeca Pagodinho
Pagodinho, olhando sempre para
Trás feito uma estátua de sal
Ela alertou os motoristas advertindo
Todos um pouco alto, todos
Pára-quedistas: “Beba com
Moderação”, Felipe modera a ação
Os lábios ávidos na espuma do
Copo gelado em meio à multidão
De banhistas todos, repito,
Pára-quedistas; Ele diminuiu a pressão
Do pé, A rotação do motor baixou
Para l00 km por dia, Então esse o
Segredo do casamento: o inconsciente
Coletivo das famílias zela por tê-lo
Preso às sombras. De corpo inteiro
As células apostam corrida nos fins
De semana, Aladas barracas de praia
Neurônios e bactérias ávidos por
Voltar a morder o anzol do dinheiro
Uma, duas mil vidas sem nenhuma
Plenitude à vista que não seja a
Renovação da necessidade do
Conflito.; Como é confortante
Estar de volta ao abrigo depois
Da folga do fim de semana, Como
É boa a certeza; A única certeza
De que a garagem estará
À espera de seu carro,. A sensação
Fálica do asfalto sendo vencido
Como se a distância fosse o único
Inimigo que o separa dos sete dias
Próximos das sete noites; Amanhã
Às sete horas poderá se valer
Da liberdade ilusória de outro
Fim de semana, A expectativa de
Felipe que ele julga ser apenas sua
É da massa de pára-quedistas que
Salta sobre as cadeiras; ao redor
Das mesas próximas às ondas de
Ácido acético, líquido corrosivo
Nas quais mergulha de cabeça
Na oxidação do álcool etílico
Seu tapete voador galgou as
Alturas e mesuras das nuvens
A menina chora, o garoto olha
A paisagem rápida pelo vidro
Fechado da porta do carro
E a mãe conciliadora fala
— Calma, papai está chegando
A filha de mansinho como que
Despertando de um pesadelo:
— Quero ver as pegadinhas no
Programa do Faustão. “Não é
Faustão, é Buldogão o nome dele”
Provoca o pentelho do Filipinho
— Pipoca com guaraná, Mãeínha
Torna a filha queridinha.
— Está bem, ouviu, Maria?
— Sim senhora, eu também gosto.
Calada a mulher sorrir como quem
Sobreviveu a mais um “programa de
Índio”; Entrou na sala, ligou a tv
Foi direto ao banheiro abriu a ducha
Sentou no trono, soltou um pum
E ouviu o sorriso hilário das
Pegadinhas na reprodução do vt
De volta ao espelho espreitou
Os pés-de-galinha, olho no olho
Como um animal acuado numa
Armadilha, apreensiva, tentou,
Inutilmente, não se ver, Olhou-se
Em busca de tentar vencer o inimigo
Invisível de gestos tão afetadamente
Doces como as pálpebras galináceas
De Juno, buscando ganhar forças
Para a outro fim de semana, de novo
Sobreviver.
DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 25/04/2010


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